Omeprazol causa demência? O que se sabe sobre os riscos do uso contínuo

  • 23/10/2025
(Foto: Reprodução)
Omeprazol: por que o remédio está sendo cortado das receitas? A suspeita de que o omeprazol, um dos remédios mais usados do Brasil, pudesse estar ligado à demência e Alzheimer vem sendo debatida há anos, mas até hoje não há prova científica de causa e efeito. O que se sabe, segundo neurologistas e gastroenterologistas, é que o uso contínuo e sem reavaliação médica pode trazer riscos reais, mas eles não envolvem perda cognitiva direta. O debate começou em 2014, quando um estudo alemão — publicado no periódico JAMA Neurology — observou uma possível associação entre o uso prolongado de inibidores de bomba de prótons (IBPs) e maior incidência de demência em idosos. Essa classe inclui o omeprazol, pantoprazol e esomeprazol. Porém, segundo especialistas ouvidos pelo g1, o estudo era observacional e não provava relação de causa e efeito. Pesquisas mais amplas e posteriores, como um trabalho finlandês de 2017 na revista Neurology com mais de 250 mil pacientes, não confirmaram a associação. De acordo com o neurologista Carlos Eduardo Altieri, do Hospital Sírio-Libanês, esses estudos iniciais chamaram atenção, mas apresentavam limitações. “Foram pesquisas observacionais, com amostras restritas. Elas mostraram uma incidência maior de demência entre usuários crônicos de omeprazol, mas não provaram causa e efeito. Estudos mais recentes e meta-análises não reproduziram essa associação”, explica. Para o neurologista e intensivista Iago Navas, da Clínica Sartor, a confusão entre associação e causalidade é o cerne da questão. Ele explica que pacientes que fazem uso crônico de IBPs geralmente já apresentam outras condições médicas — como idade avançada, múltiplos remédios, alimentação irregular e doenças crônicas —, e esses fatores podem distorcer os resultados. “Essas pessoas, por terem mais doenças associadas e usarem mais remédios, já têm um risco aumentado de declínio cognitivo. Isso não significa que o omeprazol seja o causador”, observa Navas. A literatura médica reforça, no entanto, que o possível elo entre o uso prolongado de IBPs e o declínio cognitivo é indireto, e não resultado de uma ação tóxica sobre o cérebro. O ácido gástrico é fundamental para liberar a vitamina B12 dos alimentos; quando ele é suprimido por muito tempo, a absorção diminui. Com isso, alguns pacientes podem desenvolver níveis baixos de B12, o que está associado a sintomas como fadiga, formigamento, lapsos de memória e dificuldade de concentração. “É uma relação indireta: o remédio não causa o problema cognitivo, mas pode facilitar uma deficiência que interfere no metabolismo cerebral”, completa Navas. Essa relação aparece em revisões publicadas no Journal of the American Geriatrics Society (2020) e no Frontiers in Pharmacology (2022), que relatam redução dos níveis de B12 em usuários crônicos de IBPs, especialmente idosos. Mesmo assim, os trabalhos destacam que a reposição da vitamina reverte os sintomas e que os medicamentos continuam seguros quando usados sob supervisão médica. Uso prolongado de remédios da classe do omeprazol aumenta a chance de problemas gastrointestinais. Fabio Hofnik/Flicrkr/via UCL Uso prolongado exige reavaliação A gastroenterologista Débora Poli, do Hospital Sírio-Libanês, relembra que o omeprazol e outros IBPs foram desenvolvidos para uso controlado e por tempo definido. “É um medicamento importante, mas não inofensivo. Deve ser usado com indicação precisa e tempo determinado”, afirma. Débora explica que a acidez gástrica tem papel essencial na digestão e na absorção de nutrientes. O bloqueio ácido contínuo pode reduzir a absorção de vitamina B12, ferro e magnésio, o que — no longo prazo — pode ter impacto sistêmico, embora não exista comprovação de dano cerebral direto. O uso prolongado também está associado a maior risco de infecções intestinais e a mudanças na microbiota, mas esses efeitos não têm relação comprovada com alterações cognitivas. Oncologista clínico e diretor da Clínica First, Raphael Brandão ressalta que a segurança do tratamento depende menos do medicamento em si e mais de como ele é utilizado. “O objetivo é usar a menor dose, pelo menor tempo possível, e sempre com reavaliação médica”, afirma. Na mesma linha, a cirurgiã do aparelho digestivo Vanessa Prado, do Hospital Nove de Julho, explica que a própria classe dos inibidores de bomba de prótons evoluiu muito desde o lançamento do omeprazol. “Hoje há bloqueadores de prótons mais modernos, com perfis farmacológicos mais estáveis e melhor absorção”, explica. Quem precisa de mais cuidado Segundo ela, a chave está em individualizar o tratamento. O uso prolongado e sem necessidade clínica, ainda comum entre pacientes que se automedicam, pode ser evitado com acompanhamento regular e ajuste de doses conforme o quadro de cada pessoa. Os efeitos adversos, quando ocorrem, tendem a se concentrar em idosos e pacientes em uso de múltiplos medicamentos. Esses grupos, segundo Navas, são mais propensos a deficiências nutricionais e interações medicamentosas. O acompanhamento deve incluir exames de vitamina B12, magnésio e densitometria óssea, conforme o tempo de uso e o histórico do paciente. O que se sabe Não há evidência científica de que o omeprazol cause demência ou Alzheimer. O uso prolongado pode reduzir a absorção de nutrientes como B12 e magnésio. A deficiência nutricional, e não o remédio em si, pode influenciar funções cognitivas. O uso contínuo e sem supervisão aumenta riscos gastrointestinais e metabólicos. “O foco não é o medo, e sim o acompanhamento”, resume Débora Poli. “Usar com indicação correta, por tempo determinado e sob supervisão médica é o que garante segurança.”

FONTE: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/10/23/omeprazol-causa-demencia-o-que-se-sabe-sobre-os-riscos-do-uso-continuo.ghtml


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